sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Prova NCE - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL

Prova comentada por Henrique Nuno


NCE – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL


“Arrumar o homem”

Não boto a mão no fogo pela autenticidade da estória que estou para contar. Não posso, porém, duvidar da veracidade da pessoa de quem a escutei e, por isso, tenho-a como verdadeira. Salva-me, de qualquer modo, o provérbio italiano: “Se não é verdadeira... é muito graciosa!”
Estava, pois, aquele pai carioca, engenheiro de profissão, posto em sossego, admitido que, para um engenheiro, é sossego andar mergulhado em cálculos de estrutura. Ao lado, o filho, de 7 ou 8 anos, não cessava de atormentá-lo com perguntas de todo jaez, tentando conquistar um companheiro de lazer.
A idéia mais luminosa que ocorreu ao pai, depois de dez a quinze convites a ficar quieto e a deixá-lo trabalhar, foi a de pôr nas mãos do moleque um belo quebra-cabeça trazido da última viagem à Europa. “Vá brincando enquanto eu termino esta conta”. sentencia entre dentes, prelibando pelo menos uma hora, hora e meia de trégua. O peralta não levará menos do que isso para armar o mapa do mundo com dos cinco continentes, arquipélagos, mares e oceanos, comemora o pai-engenheiro.
Quem foi que disse hora e meia? Dez minutos depois, dez minutos cravados, e o menino já o puxava triunfante: “Pai, vem ver!” No chão, completinho, sem defeito, o mapa do mundo.
Como fez, como não fez? Em menos de uma hora era impossível. O próprio herói deu a chave da proeza: “Pai, você não percebeu que, atrás do mundo, o quebra-cabeça tinha um homem? Era mais fácil. E quando eu arrumei o homem, o mundo ficou arrumado!”
“Mas esse garoto é um sábio!”, sobressaltei, ouvindo a palavra final. Nunca ouvi verdade tão cristalina: “Basta arrumar o homem (tão desarrumado quase sempre) e o mundo fica arrumado!”
Arrumar o homem é a tarefa das tarefas, se é que se quer arrumar o mundo.

( Dom Lucas Moreira Neves Jornal do Brasil, Jan. 1997)

01. Assinale o item cuja afirmativa está de acordo com o primeiro parágrafo do texto:

a) embora o autor do texto não confie na veracidade da estória narrada, conta-a por seu valor moral;
b) como o autor do texto confia na pessoa que lhe narrou a estória, ele a transfere para o leitor, mesmo sabendo que não é autêntica;
c) A despeito de ser bastante graciosa a história narrada, o autor do texto tem certeza de sua inautenticidade ;
d) O autor do texto nos narra uma história de cuja autenticidade não está certo, apesar de ter sido contada por pessoa digna de ;
e) a estória narrada possui autenticidade, veracidade e , além disso, certa graça.

1. Resposta: D - O autor afirma que não bota “a mão no fogo” pela autenticidade da estória (significa que não tem a certeza de sua veracidade). Apesar disso, não duvida da veracidade da pessoa de quem a escutou, o que significa que essa pessoa é digna de confiança do autor.

Comentário:

As alternativas a, b e c afirmam categoricamente que a estória não é verdadeira:

a) “não confie na veracidade da estória narrada”;
b) “mesmo sabendo que não é autêntica”;
c) “o autor do texto tem certeza de sua inautenticidade” - O autor não diz que não confia na veracidade da estória, mas, sim, que não tem certeza de sua veracidade. Não ter a certeza de algo significa que há a possibilidade de a estória poder ser verdadeira ou não.
e) É errado afirmar que a estória é autêntica.

02. O título dado ao texto:

a) representa a tarefa que deveria ser executada pelo menino;
b) indica a verdadeira finalidade do jogo de quebra- cabeça;
c) mostra a desorganização reinante na família moderna;
d) assinala a tarefa básica inicial para a organização do mundo;
e) demonstra a sabedoria precoce do menino da estória narrada.

2. Resposta: D – O último parágrafo do texto indica a tese (algo que se quer provar): “Arrumar o homem é a tarefa das tarefas, se é que se quer arrumar o mundo”, ou , para arrumar o mundo é necessário arrumar primeiramente o homem.

Comentário:

a) A tarefa do menino era apenas a de brincar com o quebra-cabeça, não perturbando o pai.
b) Além da diversão, esse jogo pode ter também finalidade didática, e, não, não objetivo moral.
c) Não há qualquer referência à desorganização da família moderna.
e) O menino não demonstrou sabedoria precoce, mas, sim, esperteza.

03. Na continuidade de um texto, algumas palavras referem-se a outras anteriormente expressas; assinale o item em que a palavra destacada tem sua referência corretamente indicada:

a) Não boto a mão no fogo pela autenticidade da estória que estou para contar - refere-se à autenticidade da estória narrada;
b) Não posso, porém, duvidar da veracidade da pessoa de quem a escutei... - refere-se à veracidade da estória narrada;
c) ...e, por isso tenho-a como verdadeira. - refere-se a não poder duvidar da veracidade da pessoa que lhe narrou a estória;
d) ...tenho-a como verdadeira. - refere-se à pessoa que lhe narrou a estória do texto;
e) Salva-me de qualquer modo, o provérbio italiano. - refere-se à pessoa de cuja veracidade o autor do texto não pode

3. Resposta: C – O pronome isso refere-se ao que foi dito anteriormente (o fato de não poder duvidar da veracidade da pessoa que lhe narrou a estória): Veja a substituição: Não posso, porém, duvidar da veracidade da pessoa de quem a escutei e, (por isso) por não poder duvidar da veracidade da pessoa que me narrou a estória, tenho-a como verdadeira.

Comentário:

a) O pronome relativo que refere-se à estória. Observe a segunda oração: que estou para contar (= estou para contar que). Substituindo que por a estória, teremos: Estou para contar a estória.
b) O pronome a refere-se à estória. Veja a substituição: de quem a escutei (= escutei-a de quem; a = a estória; portanto, escutei a estória de quem).
d) O pronome a refere-se à estória. Substituindo: tenho-a como verdadeira = tenho a estória como verdadeira.
e) O pronome me refere-se ao autor: Salva-me ( = a mim, autor) de qualquer modo, o provérbio italiano.

04. O item em que o vocábulo destacado está tomado em sentido não- figurado é:

a) Não boto a mão no fogo pela autenticidade da estória...
b) Estava, pois, aquele pai carioca ...
c) ...não cessava de atormentá-lo com perguntas...
d) ...comemora o pai-engenheiro
e) Mas esse garoto é um sábio !

4. Resposta: B

Obs.: Sentido não-figurado significa sentido denotativo, literal, isto é, as palavras possuem um significado próprio, de base. Ex.: arder significa consumir-se em chamas: A lenha arde na lareira. Sentido figurado significa sentido conotativo, isto é, as palavras possuem sentido subjetivo: Meu coração arde por você.
O termo carioca está usado em sentido denotativo, real, significando natural da cidade do Rio de Janeir
o.

Comentário:

a) A expressão boto a mão no fogo, em sentido figurado, significa acredito piamente.
c) A expressão atormentá-lo, em sentido figurado, significa arreliá-lo, aborrecê-lo.
d) A forma verbal comemora, em sentido figurado, significa alegra-se, exulta.
e) Em sentido figurado, sábio significa esperto, arguto.

05. ..pôr nas mãos do moleque um belo quebra-cabeça...; o substantivo quebra-cabeça forma o plural de modo idêntico a um dos substantivos abaixo:

a) guarda-chuva;
b) tenente-coronel;
c) terça-feira;
d) ponto-de-vista;
e) caneta-tinteiro.

5. Resposta: A – Quando os substantivos compostos são formados por verbo + substantivo, só a segunda palavra vai para o plural: quebra-cabeças; guarda-chuvas.

Comentário:

b) e c) Quando os substantivos compostos são formados por substantivo, adjetivo e numeral, ambas as palavras vão para o plural: tenentes-coronéis; terças-feiras.
d) Quando as duas palavras dos substantivos compostos estiverem ligadas por preposição, só a primeira vai para o plural: pontos-de-vista.
e) Quando a segunda palavra dos substantivos compostos especifica a primeira, só a primeira vai para o plural: canetas-tinteiro.

06. O item em que o vocábulo destacado tem seu sinônimo corretamente indicado é:
a) Salva-me, de qualquer modo, o provérbio italiano... - citação;
b) ...com perguntas de todo jaez .. - tipo;
c) ...tentando conquistar um companheiro de lazer. - aventuras;
d) prelibando pelo menos uma hora ... - desejando;
e) o peralta não levará menos do que isso... - revolucionário.

6. Resposta: B – O vocábulo jaez significa, em sentido figurado, tipo, “qualidade”, “espécie”; em sentido denotativo, “aparelho e adorno para bestas”.

Comentário:

a) provérbio = adágio, máxima, ditado.
c) lazer = entretenimento, ócio, folga, descanso.
d) prelibando = gozando antecipadamente, antegostar.
e) peralta = janota, criança travessa.

07. Vá brincando enquanto eu termino esta conta; se fossem dois engenheiros querendo trabalhar e dois os meninos, esta mesma frase, mantidas as pessoas, deveria ter a seguinte forma:

a) Vão brincando enquanto nós terminamos esta conta;
b) Ide brincar enquanto eu termino esta conta;
c) Vamos brincando enquanto nós terminamos esta conta;
d) Vade brincando enquanto eles terminam esta conta;
e) Vai brincando enquanto nós terminamos esta conta.

7. Resposta: A – A forma verbal vai está na terceira pessoa do singular (correspondendo a você) do imperativo afirmativo; a terceira do plural (=vocês) seria vão. A forma verbal termino está na primeira pessoa do singular (eu); a primeira do plural (= nós) é terminamos. Fazendo as modificações, eis a frase correta: Vão brincando enquanto nós terminamos esta conta.

08. Basta arrumar o homem (...) e o mundo fica arrumado! A noção expressa pela primeira oração, em relação à segunda é:

a) concessão;
b) causa;
c) tempo;
d) comparação;
e) condição.

8. Resposta: E – Para que o fato expresso na segunda oração se realize, há uma condição expressa na primeira. Se reescrevermos a frase, introduzindo uma conjunção condicional, observaremos que o sentido permanecerá inalterado: Se arrumarmos o homem (...), o mundo fica arrumado.
Obs.: Embora com sentido diferente do anterior, também poderíamos dizer que a primeira oração expressa tempo: Quando arrumarmos o homem (...), o mundo ficará arrumado. No primeiro caso, há uma possibilidade, que pode ou não realizar-se; no segundo, há uma certeza, isto é, um dia o mundo ficará arrumado.

09. A frase do menino: E quando eu arrumei o homem, o mundo ficou arrumado! mostra que:

a) o pai do menino desconhecia a brilhante inteligência do filho;
b) o menino tinha uma visão critica do mundo bastante apurada;
c) o menino já havia feito a mesma tarefa antes;
d) o autor do texto quer mostrar a sabedoria do menino;
e) o menino descobrira um meio mais fácil de completar a tarefa.

9. Resposta: E – Como havia a figura de um homem atrás do mundo, bastou ao garoto seguir os contornos dessa figura, o que tornou a tarefa muito fácil.

Comentário:

a) Em nenhum momento do texto se deduz que o pai desconhecia a brilhante inteligência do filho.
b) O menino apenas montou o quebra-cabeça sem nenhuma visão crítica.
c) Deduz-se que foi a primeira vez que o garoto fez essa tarefa.
d) O autor quer mostrar que existe uma maneira mais fácil de arrumar o mundo: basta arrumar o homem.

10. Mas esse garoto é um sábio...; esta frase do autor do texto é introduzida por uma conjunção adversativa que marca, nesse caso, a oposição entre:

a) a idade e a sabedoria;
b) a autoridade e a desobediência;
c) o trabalho e o lazer;
d) a teoria e a prática;
e) a ignorância e o conhecimento.

10. Resposta: A – O conectivo Mas estabelece uma oposição entre a idade e a inteligência. Poderíamos reescrever o trecho assim: É garoto (a sabedoria adquire-se com o tempo) mas, é um sábio (= Apesar de garoto – e a sabedoria adquire-se com o tempo -, é um sábio.

Comentário:

b), c) e d) não têm nenhuma relação com o texto.
e) Embora esta alternativa possa provocar alguma dúvida, o trecho não indica que se pudesse pensar que garoto poderia ser ignorante, mas não é. Trata-se, como dissemos na alternativa a, de uma questão de sabedoria (inteligência) para ligar o jogo à figura do homem, pouco provável em crianças, cujo raciocínio costuma ser menos apurado do que o dos adultos.

11. O segmento do texto que NÃO apresenta qualquer processo de intensificação vocabular é:

a) Arrumar o homem é a tarefa das tarefas...;
b) Em menos de uma hora era impossível.;
c) Era mais fácil.;
d Nunca ouvi verdade tão cristalina;
e) A idéia mais luminosa que ocorreu ao pai...

11. Resposta: B – Intensificação é a uma qualidade em grau muito elevado. Na alternativa b, não há qualquer intensificação. Geralmente, essa intensificação é feita com advérbios de intensidade.

Comentário:

a) A expressão a tarefa das tarefas significa a tarefa mais importante.
c) O advérbio mais intensifica o adjetivo fácil.
d) O advérbio tão intensifica o adjetivo cristalina.
e) O advérbio mais intensifica o adjetivo luminosa.

12. ... você não percebeu que atrás do mundo, o quebra-cabeça tinha um homem? ...se é que se quer arrumar o mundo ; a palavra "mundo" nesses dois segmentos:

a) apresenta significados idênticos;
b) representa significados opostos;
c) mostra significados abstratos;
d) possui alguns traços em comum;
e) é exemplo de substantivo próprio.

12. Resposta: D – Há alguns traços em comum: a palavra mundo, na primeira ocorrência, significa mapa-múndi; na segunda, representa a humanidade.

Comentário:

a) Os significados não são idênticos: no primeiro caso,como já dissemos na alternativa d, mundo significa mapa-múndi; no segundo, lugar em que vivemos, humanidade.
b) Embora diferentes, os significados não são opostos.
c) Os significados são concretos: o primeiro, um mapa; o segundo, as pessoas, os lugares.
e) Nos dois casos, a palavra mundo é substantivo comum.

13. ...pôr nas mãos do moleque um belo quebra-cabeça...; a palavra "pôr" leva acento gráfico pela mesma razão que nos leva a acentuar:

a) você;
b) têm;
c) pára;
d) nó;
e) pôde.

13. Resposta: C – No vocábulo pôr há acento diferencial de tonicidade, isto é, acento que distingue o verbo (pôr) da preposição (por); o mesmo ocorre com a forma verbal pára, que se distingue da preposição para.

Comentário:

a) você – é uma palavra oxítona terminada em e.
b) têm – acentua-se a terceira pessoa do plural, no presente do indicativo, dos verbos ter e vir, para se diferenciarem da terceira do singular: ele tem – eles têm; ele vem – eles vêm.
d) – é monossílabo tônico terminado em o.
e) No vocábulo pôde ocorre aceno diferencial de timbre, para distinguir o pretérito perfeito (pôde) do presente (pode): Ontem ele não pôde sair; hoje, pode.

14. “Mas esse garoto é um sábio!”, sobressaltei, ouvindo a palavra final. ; a oração reduzida destacada só NÃO pode equivaler semanticamente a:

a) ...porquanto ouvia a palavra final;
b) ...quando ouvi a palavra final;
c) ...após ouvir a palavra final;
d) ...enquanto ouvia a palavra final;
e) ..depois de ouvir a palavra final.

14. Resposta: A – A oração reduzida de gerúndio ouvindo a palavra final expressa tempo. O conectivo porquanto ( = porque, visto que, pois, etc.) indica causa, o que modificaria o sentido.

Os conectivos quando (b), após (c), enquanto (d), e depois de (e) também expressam tempo.

15. ..se é quer se quer arrumar o mundo.; a frase final do texto mostra que:

a) o autor do texto participa do desejo geral de mudar o mundo;
b só uma parte da população anseia por mudanças;
c) o autor do texto faz uma ressalva negativa sobre o desejo das pessoas;
d) o filho do engenheiro desconfia das reais intenções das pessoas;
e) só o mundo, por si mesmo, pode salvar-se.

15. Resposta: C – O autor faz uma afirmação categórica (“Arrumar o homem é a tarefa das tarefas”) para, em seguida, com a expressão se é que, exprimir uma grande dúvida quanto à eventualidade expressa. É uma ressalva negativa, pois o que se espera, em princípio, é as pessoas queiram “arrumar o mundo”.

16. Ao lado, o filho, de 7 ou 8 anos, não cessava de atormentá-lo...; as vírgulas que envolvem o segmento destacado:

a) marcam um adjunto adverbial deslocado;
b) indicam a presença de uma oração intercalada;
c) mostram que há uma quebra da ordem direta da frase;
d) estão usadas erradamente porque separam o sujeito do verbo;
e) assinalam a presença de um aposto.

16. Resposta: E – O segmento destacado é um aposto explicativo – separa-se por virgulas (mais comum), travessões, ou reticências.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bem comentada. o sr. ajuda bastante a nós concurseiros...