sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Prova NCE - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - ZOOTECNISTA - 2004 – NÍVEL SUPERIOR

Prova comentada por Henrique Nuno


TEXTO 1 – RECIFE

Há mais de trinta anos, uma lei municipal transformou o Recife, em Pernambuco, na única cidade brasileira que oferece a seus habitantes uma exposição compulsória de obras de arte. Graças a um despacho do então prefeito Miguel Arraes, todos os edifícios com mais de três andares são obrigados a ostentar uma obra de “reconhecido valor artístico”. Ao longo de um quarto de século fingiu-se que estavam todos de acordo quanto à aplicação da lei. Só recentemente se descobriu que algumas construtoras burlavam a legislação com as chamadas “esculturas ambulantes”, que estacionavam na frente dos prédios apenas pelo tempo necessário para a obtenção do “habite-se”, seguindo depois para novas incorporações.

1 – “Há mais de trinta anos, uma lei municipal transformou o Recife, em Pernambuco, na única cidade brasileira que oferece a seus habitantes uma exposição compulsória de obras de arte”; infere-se desse segmento inicial do texto 1 que:

A) modernamente, a cidade de Recife não possui mais a lei municipal citada;
B) a datação da lei municipal é feita de forma precisa porque o texto é de caráter informativo;
C) a localização da cidade de Recife no estado de Pernambuco é necessária porque há outras cidades com o mesmo nome, que podem ser confundidas;
D) os habitantes de Recife lutaram para que sua cidade ganhasse a lei municipal citada;
E) os recifenses vêem obras de arte na sua cidade, independentemente de sua vontade.

1. Resposta: E – “Exposição compulsória” significa que é obrigatória, isto é, independente da vontade de alguém. Mesmo que os recifenses não queiram, como as obras de arte estão expostas nos prédios, eles as vêem.

Comentário:

a) Essa lei, criada há mais de trinta anos, continua em vigor: “Há mais de trinta anos, uma lei municipal (...) oferece a seus habitantes uma exposição compulsória de obras de arte”.
b) A datação da lei municipal não é feita de forma precisa. A expressão “há mais de trinta anos” é vaga.
c) Não é necessária a localização da cidade do Recife no estado de Pernambuco. Quando se alude ao Recife, lembramo-nos automaticamente da capital de Pernambuco.
d) Em nenhuma parte do texto se fala na luta dos recifenses para que a sua cidade ganhasse a lei municipal citada.

2 – “Graças a um despacho do então prefeito Miguel Arraes,...”; o item abaixo em que a expressão “graças a” está INADEQUADAMENTE empregada é:

A) graças ao prefeito Arraes, Recife ficou mais bonita;
B) graças a uma poça de lama, o carro derrapou na curva da estrada;
C) graças ao esforço de todos, a obra foi completada;
D) graças a Deus os resultados foram acima de nossa expectativa;
E) graças a um telegrama, todos ficaram sabendo da transferência da prova.

2. Resposta: B – A expressão “graças a” significa “por causa de”, mas somente se usa para algo positivo.

Comentário:

Em b, “o carro derrapou na curva da estrada” é uma conseqüência negativa. Além disso, não se agradece pelas coisas ruins. Lembremos que o termo “graças” significa “agradecimento”. Neste caso, o melhor seria usar “por culpa de”: “Por culpa de” uma poça de lama, o carro derrapou na curva da estrada.

Nas demais alternativas, temos benefícios.

3 – “...todos os edifícios com mais de três andares são obrigados a ostentar uma obra de “reconhecido valor artístico”; deduz-se dessa lei que:

A) os edifícios com menos de três andares não podem exibir obras de arte;
B) os edifícios de três andares são obrigados a ostentar obras de arte de reconhecido valor;
C) quem decide se a obra a ser ostentada tem, ou não, valor artístico, é o síndico do prédio;
D) as obras de arte a serem expostas devem ter seu valor público previamente reconhecido;
E) os edifícios de dois andares podem exibir obras desde que de reconhecido valor artístico.

3. Resposta: D – É claro que uma obra exposta de “reconhecido valor artístico” tem de ter seu valor público consagrado previamente pelos críticos.

Comentário:

a) A lei só obriga os prédios de mais de três andares a expor uma obra de arte, mas não proíbe ninguém de expor uma obra, qualquer que seja seu valor artístico. Portanto, se os prédios de menos de três andares quiserem, podem exibir obras de arte.
b) Somente os edifícios de mais de três andares são obrigados a expor uma obra de arte. Assim, os de três andares não estão incluídos.
c) O valor artístico é reconhecido pela sociedade.
e) A lei não obriga os edifícios de dois andares a exibirem obras de reconhecido valor artístico. Esses edifícios podem exibir o que quiserem.

4 – Segundo o texto, “esculturas ambulantes” seriam aquelas que:

A) trazem, em sua representação, movimento interior;
B) são expostas transitoriamente diante de edifícios;
C) são roubadas das portas de uns edifícios para serem expostas em outros;
D) mudam conforme a lei;
E) não são de reconhecido valor artístico.

4. Resposta: B – “Esculturas ambulantes” seriam aquelas que são expostas momentaneamente diante dos edifícios: “estacionavam na frente dos prédios apenas pelo tempo necessário para a obtenção do “habite-se”, seguindo depois para novas incorporações”.


TEXTO 2 – VAN GOGH EM DOIS TEMPOS

No inverno de 1889, Vincent Van Gogh estava vivendo seu trigésimo sexto atormentado ano de vida, pintava há dez e continuava trafegando entre a miséria e a desesperança de ser eternamente custeado pelo irmão caçula Theo, seu delicado companheiro de energia visionária. Foi então que Van Gogh despachou uma de suas memoráveis cartas ao irmão, contendo um raro espasmo de otimismo financeiro, “Arrisco jurar que meus girassóis valem quinhentos francos...”, proclamou.
Noventa e sete anos após o suicídio, Van Gogh conseguiu superar todas as barreiras do mercado de arte: seu quadro foi arrematado pela cifra estratosférica de trinta e seis milhões de dólares.

5 – No texto II, o título refere-se a dois momentos na vida de Van Gogh, caracterizados respectivamente por:

A) desvalorização - valorização;
B) euforia - depressão;
C) juventude – maturidade;
D) dependência – independência;
E) vida – morte.

5. Resposta: A - No primeiro momento, isto é, durante sua vida, a pintura de Van Gogh não valia praticamente nada; as telas que ele pintava não lhe garantiam a sobrevivência. Desse modo, havia uma desvalorização de sua arte. No segundo momento, muitos anos depois, o quadro que ele achava valer quinhentos francos foi arrematado por trinta e seis milhões de dólares – uma incrível valorização.

Comentário:

b) o autor praticamente viveu toda a sua vida em depressão: “despachou uma de suas memoráveis cartas ao irmão, contendo um raro espasmo de otimismo financeiro...”.
c) O texto não mostra uma oposição entre juventude e maturidade.
d) O autor sempre foi dependente; a valorização só veio muito depois de sua morte.
e) Não foi porque o autor morreu que a sua obra foi valorizada.

6 – “...Vincent Van Gogh estava vivendo seu trigésimo sexto atormentado ano de vida,”; este segmento do texto mostra que Van Gogh:

A) sempre viveu atormentado;
B) aos trinta e seis anos ficou atormentado;
C) antes do inverno de 1889, vivia mais feliz;
D) sofria com o rigor do inverno europeu;
E) passou a ficar atormentado em 1889.

6. Resposta: A – Esse segmento significa que desde o nascimento até aquela data, Van Gogh vivia atormentado, isto é, sempre viveu atormentado.

7 – Pelas breves referências do texto, só NÃO se pode inferir do texto, a respeito das relações entre Van Gogh e o irmão Theo, e de suas características que:

A) Theo acompanhava Van Gogh em suas fantasias;
B) Van Gogh precisava da ajuda financeira do irmão;
C) a vida mudaria para os dois, anos mais tarde;
D) Van Gogh não tinha seu talento reconhecido nessa época;
E) Theo possuía melhor situação financeira que o irmão.

7. Resposta: C – Não se deduz do texto que a vida mudaria para os dois, anos mais tarde. O que o texto fala é que “noventa e sete anos após o suicídio, Van Gogh conseguiu superar todas as barreiras do mercado de arte...”.

Comentário:

a) O texto afirma que o irmão era “seu delicado companheiro de energia visionária”, o que significa que Theo também acreditava que um dia a obra de Van Gogh seria reconhecida.
b) Van Gogh vivia desesperado por ser “eternamente custeado pelo irmão caçula Theo”, sinal de que o artista precisava de ajuda.
d) Se Van Gogh tivesse reconhecido seu talento nessa época, não viveria na miséria.
e) Se Theo sustentava o irmão, é claro que tinha melhor situação do que Van Gogh.

8 – “Custeado” é particípio do verbo “custear”; o item que mostra uma forma ERRADA desse mesmo verbo é:

A) Theo custeava a vida de Van Gogh em Paris;
B) todos querem que nós custeemos o projeto;
C) custeamos o projeto artístico do museu;
D) todos querem que ela custie a exposição;
E) ela já custeara várias exposições.

8. Resposta: D – O verbo “custear” conjuga-se como “passear”. A forma correta do verbo “custear” no presente do indicativo é “passeie” – “custeie”.

9 – A declaração de Van Gogh – “Arrisco jurar que meus girassóis valem quinhentos francos” – soa hoje como:

A) humor negro;
B) mania de grandeza;
C) triste ironia;
D) declaração premonitória;
E) citação visionária.

9. Resposta: C – Soa como triste ironia, visto que o autor imaginava que seu quadro valeria quinhentos francos, o que provavelmente daria para minorar sua miséria; hoje vale uma grande fortuna, que ele não pôde usufruir.


Comentário:


a) “Humor negro”, segundo Aurélio, é aquele “que choca pelo emprego de elementos mórbidos e / ou macabros em situações cômicas, ou vice-versa”, o que não é o caso..
b) O autor foi humilde em sua avaliação.
d) “Declaração premonitória” seria se Van Gogh imaginasse que seu quadro valeria, no futuro, milhões de dólares.
e) O pintor não cita palavras de outra pessoa, a afirmação do texto é dele mesmo.

TEXTO 3 – NA PRAIA DO SONO

Os homens pescam e lavram; as mulheres acumulam os cuidados da casa com os da lavoura, quando os maridos estão no mar; e as crianças alternam o bê-a-bá na escolinha com brincadeiras nos quintais sem cerca. Além do dia-a-dia pacato de um povoado isolado do mundo, os trezentos habitantes da Praia do Sono têm em comum o sobrenome: todos são Araújo, Castro ou Santos, por descenderem de famílias portuguesas que ali chegaram no século XIX.

10 – “Os homens pescam e lavram”; no início do texto 3, esse segmento informa ao leitor que:

A) alguns homens são pescadores e outros, mineradores;
B) alguns homens são pescadores e outros, agricultores;
C) os homens são, ao mesmo tempo, pescadores e lavradores;
D) os homens são, ao mesmo tempo, lavradores e garimpeiros;
E) só os homens pescam e lavram.

10. Resposta: C – Se os homens pescam e lavram, isso significa que eles são simultaneamente pescadores e lavradores.

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