sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Prova - NCE – UNEMAT – ADVOGADO – 2005 – NÍVEL SUPERIOR

Prova comentada por Henrique Nuno



TEXTO - URGÊNCIA

Ao constatar que, de 40 pessoas que costumam dormir nas praias de Copacabana e Ipanema, 35 vieram de fora da cidade, a Secretaria municipal de Assistência Social decidiu que não mais serão acolhidos nos abrigos públicos os sem-teto adultos que não sejam do Rio de Janeiro. Eles serão enviados de volta a suas cidades ou, se não quiserem, ficarão mesmo nas ruas.
A decisão, na aparência, tem lógica. Afinal, se o Rio vai proporcionar abrigo a todos que vierem mendigar aqui, isso só aumentará o poder de atração da metrópole e portanto o fluxo de migração. Fica claro que o problema não pode ser visto como local: exige uma política integrada de municípios, estados e governo federal.
Mas essa atitude, além de tratar o problema como sendo exclusivamente da população de rua – quando na verdade é da cidade – não leva em conta que, se algum dia estará em prática essa desejada política nacional, isso só acontecerá num futuro muito distante. Até lá, num pólo turístico como é o Rio, os moradores de rua que não forem convencidos a deixar a cidade – e quantos serão? – continuarão aqui, onde obviamente há mais oportunidades, ou pelo menos esmolas maiores, do que nos municípios de onde vieram. É uma maneira segura de afugentar os turistas de que o Rio tanto precisa, e que respondem por 13% da renda da cidade.
É meritório que a prefeitura se bata por uma política integrada para a questão. Mas até que ela se torne realidade, manter em caráter permanente, com todas as dificuldades, um programa de recolhimento da população de rua é uma necessidade do Rio.

O Globo, 19/02/2005

1 - Segundo o primeiro parágrafo do texto, a decisão da Secretaria municipal de Assistência Social foi tomada a partir de:

a) um levantamento geral de dados sobre a população de rua;
b) uma análise estatística de dados de uma pesquisa;
c) uma hipótese que foi confirmada em pesquisa;
d) uma suposição ainda não confirmada pelos dados;
e) uma pressuposição contrariada pelos dados de uma pesquisa.

1. Resposta: B – Se a Secretaria municipal de Assistência Social fala em números precisos (40 pessoas / 35) é porque foi realizada e analisada alguma pesquisa. Não se chega a esses números por acaso.

Comentário:

a) O texto não fala em levantamento geral de dados, mas de dados específicos (sobre a origem das pessoas que costumam dormir nas ruas).
c) Não se fala em hipótese, mas em certeza, com dados precisos.
d) Não há suposição, apenas constatação.
e) O texto nada afirma sobre pressuposição.

2 - “...não mais serão acolhidos nos abrigos públicos os sem-teto adultos que não sejam do Rio de Janeiro”; pode-se inferir desse segmento do texto que:

a) os abrigos públicos só abrigavam adultos;
b) anteriormente, os abrigos públicos só acolhiam não-cariocas;
c) as crianças não-cariocas serão acolhidas nos abrigos;
d) só cariocas serão futuramente acolhidos nos abrigos;
e) os sem-teto não-cariocas só serão aceitos com crianças.

2. Resposta: D – Se não mais serão acolhidos nos abrigos os sem-teto adultos que não sejam do Rio de Janeiro, isso significa que só os do Rio de Janeiro, cariocas, portanto, serão futuramente acolhidos nos abrigos.

Comentário:

a) O texto não diz que os abrigos só abrigavam adultos, apenas afirma que os adultos que não sejam do Rio de Janeiro não serão acolhidos.
b) Deduz-se que, antes, os abrigos recolhiam cariocas e não-cariocas, por isso a decisão de restringir o acolhimento aos cariocas.
c) O texto não faz menção às crianças não cariocas.
e) O texto diz que os adultos não-cariocas não serão aceitos nos abrigos. Não há qualquer ressalva.

3 - “abrigos públicos”; nesse segmento do texto, o melhor significado para o adjetivo destacado é:

a) que se refere ou pertence ao povo;
b) que serve para uso de todos;
c) sob a responsabilidade de um governo;
d) que é do conhecimento de todos;
e) conjunto anônimo de pessoas.

3. Resposta: C - “Abrigos públicos” são de responsabilidade do governo; neste caso, são de responsabilidade da prefeitura da cidade do Rio de janeiro.

4 - Ao dizer, no início do segundo parágrafo, que a decisão da Secretaria municipal de Assistência Social tem lógica “na aparência”, o autor do texto antecipa que:

a) haverá um outro aspecto não considerado pelas autoridades;
b) o governo continuará com a mesma política agora adotada;
c) a situação dos sem-teto melhorará sensivelmente;
d) as medidas governamentais terão maus resultados;
e) as medidas governamentais só têm importância política.

4. Resposta: A – Ao dizer “na aparência”, o autor minimiza a validade da opinião emitida para, no parágrafo seguinte, refutá-la completamente, com a conjunção adversativa “mas”: “Mas essa atitude, além de tratar o problema como sendo exclusivamente da população de rua – quando na verdade é da cidade – não leva em conta que, se algum dia estará em prática essa desejada política nacional, isso só acontecerá num futuro muito distante”. Resumindo: na aparência, a decisão governamental tem lógica; na prática, porém, esse problema é da cidade.

5 - “...se o Rio vai proporcionar abrigo a todos que vierem mendigar aqui,...”; o emprego da forma verbal vierem tem valor de:

a) ação futura dependente de outra ação futura;
b) um fato futuro terminado em relação a outro fato futuro;
c) uma ação de que se duvida;
d) ação ainda não realizada;
e) indicar uma incerteza sobre fatos passados.

5. Resposta: D – O futuro do subjuntivo, neste caso, indica uma ação futura (hipotética, passível de realização ou não), portanto, ainda não realizada.

Exemplos referentes às outras alternativas:

a) Se você vier, eu lhe abrirei a porta. (= Primeiro, você terá de vir, para depois eu abrir a porta.).
b) Quando você chegar, eu já terei partido (= Eu terei partido antes de você chegar.).
c) Não estaremos no caminho errado?
e) Terão eles chegado na hora certa?

6 - “Fica claro que o problema não pode ser visto como local”; a forma abaixo dessa mesma frase que altera o sentido original é:

a) Que o problema não pode ser visto como local é algo que fica claro;
b) Fica claro que não se pode ver o problema como local;
c) Claro fica que não pode ser visto como local esse problema;
d) Que não se pode ver o problema como local fica claro;
e) Fica claro o problema de que não pode ser visto como local.


6. Resposta: E – Questão de “paráfrase” (reescritura da frase, mantendo o sentido). O sentido fica alterado: não é o problema que fica claro, o que fica claro (evidente) é que o problema não pode ser visto como local.

Comentário:

a) Houve apenas a inversão das orações, com o acréscimo do vocábulo “algo”, que não prejudica o sentido da frase.
b) No enunciado, temos “voz passiva analítica” (verbo “ser” + particípio); nesta alternativa, “voz passiva sintética” (verbo transitivo direto + se): não pode se ver = “não pode ser visto”.
c) e d) Houve apenas mudança na ordem das palavras.

7 - No início do terceiro parágrafo há a referência a “essa atitude”; a atitude a que esse segmento se refere é a de:

a) procurar integrarem-se as políticas municipal, estadual e federal;
b) enviarem-se todos os sem-teto não cariocas para suas cidades de origem;
c) restringir-se o acolhimento nos abrigos públicos;
d) manter em caráter provisório um atendimento para todos os sem-teto;
e) aumentar o fluxo migratório para a cidade.

7. Resposta: C – “Essa atitude” refere-se à decisão da Secretaria municipal (restringir-se o acolhimento nos abrigos públicos). Basta substituir a expressão “Essa atitude” pela oração da alternativa c, e veremos que a frase manterá o sentido original: “restringir-se o acolhimento nos abrigos públicos, além de tratar o problema como sendo exclusivamente da população de rua – quando na verdade é da cidade – não leva em conta que, se algum dia estará em prática essa desejada política nacional, isso só acontecerá num futuro muito distante”.

8 - Entre os argumentos que se opõem à decisão da Secretaria municipal de Assistência Social só NÃO está incluído:

a) tratar-se o problema como se ele só fosse da população de rua;
b) prejudicar a vinda de turistas para a cidade;
c) a solução de integração política levará ainda muito tempo;
d) trazer prejuízo econômico para o Estado;
e) não levar os municípios menores a se desenvolverem.

8. Resposta: E – O texto não faz referência ao desenvolvimento dos municípios.

Comentário:

Vejamos, nas demais alternativas, argumentos contrários à decisão da Secretaria municipal de Assistência Social

a) “tratar o problema como sendo exclusivamente da população de rua” , quando para o autor, o problema é da cidade.
b) “os moradores de rua que não forem convencidos a deixar a cidade (...). É uma maneira segura de afugentar os turistas(...)”. “Afugentar os turistas” significa prejuízo financeiro para a cidade.
c) “ isso só acontecerá num futuro muito distante.” Se a integração vai demorar muito tempo, até lá o problema social continuará, o que não é bom.
d) “É uma maneira segura de afugentar os turistas de que o Rio tanto precisa, e que respondem por 13% da renda da cidade”. Com o declínio do turismo, como já foi dito na alternativa b, significa grande prejuízo para a cidade.

9 - “A maneira segura de afugentar os turistas” do Rio de Janeiro, segundo o texto, é:

a) permitir-se livremente a presença da população de rua;
b) obrigar os sem-teto a voltarem para suas cidades de origem;
c) deixar que ocorram atos de violência;
d) reduzir o fluxo de estrangeiros para a cidade;
e) conservar o hábito de darem-se esmolas maiores.

9. Resposta: A – O autor afirma que a presença dos moradores provoca a fuga dos turistas: “os moradores de rua que não forem convencidos a deixar a cidade (...). É uma maneira segura de afugentar os turistas(...)”.

10 - “É meritório que a Prefeitura se bata por uma política integrada para a questão”; a expressão “bater-se por” equivale a:

a) revoltar-se contra;
b) defender a idéia de;
c) não desejar;
d) organizar-se para;
e) opor-se a.

10. Resposta: B – A expressão “bater-se por” significa “lutar por”, “defender a idéia de”.

11 - “com todas as dificuldades”; o conectivo que poderia ser adequadamente colocado em lugar da preposição com nesse segmento do texto é:

a) por causa de;
b) diante de;
c) apesar de;
d) além de;
e) ao encontro de.

11. Resposta: C - A expressão “com todas as dificuldades” expressa uma “concessão” (obstáculo), por isso a preposição “com” poderia ser substituída pela locução prepositiva concessiva “apesar de”.

12 - Segundo se pode depreender do texto:

a) os sem-teto são parte da população de rua;
b) os sem-teto da população de rua não são cariocas;
c) a população de rua é constituída pelos sem-teto;
d) todos os sem-teto são adultos;
e) os sem-teto vivem de esmolas e pequenos roubos.

12. Resposta: C - O vocábulo “sem-teto” refere-se anaforicamente a pessoas que moram nas ruas de Copacabana e Ipanema, o que nos leva a concluir que a população de rua é constituída pelos sem teto.

Comentário:

a) os sem-teto (= que não têm teto, casa) não são parte da população de rua, mas a própria população de rua.
b) Os sem-teto são cariocas e não-cariocas.
d) O autor do texto não declara que todos os sem-tetos são adultos; ele afirma que é de medidas restritivas contra os adultos não-cariocas.
e) O texto não faz referência a esmolas nem a pequenos roubos.

13 - A urgência, que dá título ao texto, refere-se a:

a) transferência dos sem-teto para suas cidades de origem;
b) aumento de fluxo turístico para o Rio de Janeiro;
c) criação de uma política integrada de ação social;
d) mudança da decisão tomada pelo governo municipal;
e) proibição de se pedirem esmolas nas ruas da cidade.

13. Resposta: D – O autor afirma que, até que a integração se torne realidade, é uma necessidade (= é urgente) manter um programa de recolhimento da população de rua. Isso significa que o governo municipal precisa mudar a decisão de só recolher cariocas aos abrigos.

Comentário:

a) A proposta de transferência dos desabrigados é do governo municipal, e não do autor.
b) O aumento do fluxo do turismo carioca seria uma conseqüência do recolhimento de todos os desabrigados, que afugentam os turistas.
c) O autor, ao se referir a uma política integrada, diz que é para “um futuro distante”, ou seja, há necessidade de tomar outras medidas ate que esse futuro possa chegar.
e) O autor não faz referência ao pedido de esmolas.

14 - A frase em que a substituição do verbo pelo substantivo correspondente NÃO é correta é:

a) “Ao constatar que, de 40 pessoas...” / A constatação de que 40 pessoas;
b) “vierem mendigar aqui” / vierem para a mendicância aqui;
c) “além de tratar o problema” / além do tratamento do problema;
d) “manter em caráter permanente” / a manutenção em caráter permanente;
e) “maneira segura de afugentar os turistas” / maneira segura de fuga dos turistas.

14. Resposta: E – A forma correta é: a maneira segura “do afugentamento” dos turistas.

15 - O texto, em função de sua estrutura, pretende:

a) discutir um tema a partir de um fato novo;
b) apresentar uma solução definitiva para um problema;
c) narrar uma sucessão de fatos;
d) descrever o estado em que se encontram as ruas da cidade;
e) convencer o público da necessidade de uma política de integração social.

15. Resposta: A – O texto discute o problema dos sem-teto, tendo como ponto de partida a decisão (fato novo) do governo municipal do Rio de Janeiro.

Comentário:

b) Não há solução definitiva para o problema: “ Mas até que ela se torne realidade, manter em caráter permanente, com todas as dificuldades, um programa de recolhimento da população de rua é uma necessidade do Rio”.
c) Não há sucessão de fatos, o único fato é a decisão governamental.
d) O autor não descreve como estão as ruas da cidade.
e) O autor sabe que uma política de integração nacional é praticamente uma utopia (“para um futuro muito distante”). O que ele pretende é que o governo municipal do Rio de Janeiro recolha todos os sem-teto, sejam cariocas ou não.

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