terça-feira, 8 de setembro de 2009

Simulado 2 para a Polícia Rodoviária Federal

SIMULADO 2 para a Polícia Rodoviária Federal (FUNRIO – Corpo de Bombeiro – Assistente Social – Nível Superior – 2008)

Sobre a morte e o morrer
Rubem Alves

O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define?

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias...

Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”

Dona Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...” Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, uma cama - de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o eu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido elos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se
define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da
beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me". Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.
(Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.)


1. As citações que o autor faz de Mário Quintana, Cecília Meireles, Dona Clara e Albert Schweitzer apresentam, em comum:

A) o questionamento da medicina.
B) o medo da morte.
C) a valorização da vida.
D) a fragilidade ética.
E) a crença na vida depois da morte.

1. Resposta: C – As citações que o autor faz de Mário Quintana, Cecília Meireles, Dona Clara e Albert Schweitzer apresentam, em comum a valorização da vida. Justifica-se a afirmação anterior com trechos do texto: "Mário Quintana: '(...) O diabo é deixar de viver.'"; "Cecília Meireles sentia algo parecido: 'Que pena a vida ser só isto...” ; Dona Clara: 'Mas, que pena! A vida é tão boa...'; "Aprendi com Albert Schweitzer que a 'reverência pela vida' é o supremo princípio ético do amor".

Comentário: Nas citações, não há referência ao medo da morte, à valorização da vida à fragilidade ética nem à crença na vida depois da morte.

2. No título do texto lido, os vocábulos “morte” e “morrer” são substantivos

A) verbos.
B) substantivos.
C) adjetivos.
D) artigos.
E) pronomes.

2. Resposta: B – No título do texto lido, os vocábulos “morte” e “morrer” são substantivos: "morte" é substantivo derivado do verbo "morrer"; o vocábulo "morrer" é formado por derivação imprópria, também chamada de conversão, que consiste na mudança de classe gramatical, mantendo a forma original. Por causa do artigo "o", o verbo passou a substantivo.

3. “Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.”, no fragmento ocorre um(a):

A) eufemismo.
B) personificação.
C) onomatopéia.
D) comparação.
E) metonímia.

3. Resposta: A – "Eufemismo" é a substituição de termos fortes por mais suaves. No fragmento “Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.”, o autor substituiu o verbo "morrer" por uma expressão mais branda – "tocar de novo o acorde final".

4. O único elemento que não faz parte da estratégia argumentativa do texto lido é:

A) a preferência por verbos no presente.
B) a inserção de depoimento pessoal.
C) a exemplificação.
D) a presença de testemunhos autorizados.
E) o uso de argumentos de autoridade.

4. Resposta: A – Embora uma das marcas linguísticas do texto argumentativo seja o emprego dos verbos no presente, visto que nesses textos não ocorre temporalidade, isto é, não há progressão temporal dos acontecimentos, o autor utilizou abundantemente os verbos no pretérito imperfeito e no pretérito perfeito, marcas, respectivamente, da descrição e da narração. O autor valeu-se de sequências descritivas e narrativas como estratégia argumentativa, ou seja a descrição e a narração servem como argumentos a favor da tese defendida.

Comentário: Estratégias argumentativas são os recursos de que se utiliza o autor para defender sua tese. O depoimento pessoal, a exemplificação, a presença de testemunhos autorizados e o uso de argumentos de autoridade estão presentes no texto. Vejamos a seguir:

b) Item Correto –
Exemplo de inserção de depoimento pessoal: "Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade".
c) Item Correto – Exemplo de "exemplificação": "Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?".
d) Item Correto – Exemplo da "presença de testemunhos autorizados" (= afirmações feitas por pessoas que possuem credibilidade e que têm experiência no assunto): Dona Clara: 'Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...'.
e) Item Correto – Exemplo do uso de "argumentos de autoridade" (argumento baseado na opinião de especialistas no assunto): "Dizem as escrituras sagradas: 'Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer'".

5. “Dizem as escrituras sagradas (...)”, a forma plural do verbo se justifica porque:

A) possui sujeito composto.
B) inicia a oração principal.
C) trata-se de sujeito indeterminado.
D) é caso de impessoalidade verbal.
E) concorda com sujeito plural.

5. Resposta: E – O sujeito de "Dizem" apresenta forma no plural: as escrituras sagradas. Na ordem direta, teríamos: As escrituras sagradas dizem (...).

6. No fragmento "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver.", o emprego das aspas justifica-se por:

A) dar ênfase ao trecho.
B) revelar a falta de coerência.
C) fragmentar o discurso do narrador.
D) destacar uma ironia.
E) indicar a citação do discurso alheio.

6. Resposta: E – O uso das aspas em "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." justifica-se por indicar a citação do discurso alheio, ou seja, transcreve as palavras de Mário Quintana.

7. (adaptada) A acentuação do vocábulo “últimos” no fragmento “Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho...” justifica-se pela mesma regra segundo a qual é acentuada a palavra:

A) inútil.
B) faróis.
C) possível.
D) ética.
E) também.

7. Resposta: D – Os vocábulos "últimos" e "ética" são acentuados pela mesma regra: proparoxítonos (acentuam-se todos os proparoxítonos).

Comentário:

a) Item Errado – inútil: paroxítona terminada em L.
b) Item Errado – faróis: ditongo aberto das oxítonas. Observação: Acentuam-se os ditongos abertos dos monossílabos tônicos (céu, réis, sóis, etc.) e das oxítonas (anzóis, chapéus, papéis, etc.). Com o Acordo ortográfico, não se acentuam mais os ditongos abertos das paroxítonas: claraboia, geleia, estreia, etc.
c) Item Errado – possível: paroxítona terminada em L.
e) Item Errado – também: oxítona terminada em EM.

8. O neologismo "morienterapia" é um vocábulo formado por:

A) derivação sufixal.
B) derivação prefixal.
C) parassíntese.
D) derivação regressiva.
E) composição.

8. Resposta: E – Composição é a formação de palavras que ocorre pela união de dois ou mais radicais. O vocábulo "morienterapia" é uma palavra composta pela união de "moriente" (= agonizante) + terapia.

Comentário: Há dois tipos de composição: aglutinação e justaposição.

1. Aglutinação: há perda ou mudança fonética. Exemplos: planalto (plano + alto) - houve perda do fonema "o" em "plano"; pernilongo (perna + longa) – o fonema "a" (de "perna") mudou para "i", e o fonema "o" (de "longa") mudou para "a"; morienterapia (moriente + terapia) – ocorreu a perda da sílaba "te" (de "moriente").
2. Justaposição: não há alteração de fonemas. Exemplos: pontapé (ponta + pé); bem-me-quer (bem + me + quer).

9. A vírgula é usada para separar o vocativo em:

A) “Nem barcas, nem gaivotas.”
B) "Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.”
C) “Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho.”
D) “Eu também, da minha forma, luto pela vida.”
E) "Papai, quando você morrer...”

9. Resposta: E – Em "Papai, quando você morrer...”, o vocábulo "Papai" é vocativo, pois é o termo que põe em evidência o ser a quem a criança se dirige. Pode ser precedido pela interjeição "Ó" (= "Ó Papai, quando você morrer...”.

Comentário:

a) Item Errado – “Nem barcas, nem gaivotas.” / A vírgula separa a oração coordenativa "nem gaivotas". Com o conectivo "nem" repetido", a vírgula é facultativa.
b) Item Errado – "Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.” / As vírgulas isolam o aposto explicativo "menina de três anos", expressão que desenvolve o sentido do pronome "Ela".
c) Item Errado – “Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho.” / A vírgula separa o predicativo "já velho".
d) Item Errado – “Eu também, da minha forma, luto pela vida.” / As vírgulas, facultativas, separam o adjunto adverbial deslocado "da minha forma".

10. O vocábulo “que” só não é pronome relativo em:

A) “Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar”
B) “em meio às pessoas que se ama”
C) “Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara”
D) “Minha filha, sei que minha hora está chegando...”
E) “O que sinto é uma enorme tristeza”

10. Resposta: D – No fragmento “Minha filha, sei que minha hora está chegando...”, o vocábulo "que" é conjunção integrante, uma vez que introduz uma oração substantiva. No caso, introduz uma oração objetiva direta. O vocábulo "que é conjunção integrante quando "que" + oração = ISSO: “Minha filha, sei que minha hora está chegando...” = “Minha filha, sei ISSO.

Comentário: O termo "que" é pronome relativo quando retoma um termo anterior; pode ser substituído por "o qual", "os quais", "a qual", "as quais".

a) Item Errado – “Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar”. / "que" = o qual; retoma "dedo".
b) Item Errado – “em meio às pessoas que se ama”. / "que" = as quais; retoma "pessoas".
c) Item Errado – “Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara”. / "que" = a qual; retoma "pergunta".
e) Item Errado – “O que sinto é uma enorme tristeza”. / "que" = o qual; retoma o pronome demonstrativo "O", equivalente a "Aquilo".

Observação: As próximas questões não faziam parte da prova original.

11. "Já tive medo da morte.".
"Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai."

Os vocábulos destacados:

A) desempenham a mesma função sintática.
B) são, respectivamente, adjunto adnominal e complemento nominal.
C) são, respectivamente, complemento nominal e adjunto adnominal nominal.
D) são, respectivamente, complemento nominal e objeto indireto.
E) são, respectivamente, adjunto adnominal e objeto indireto.

11. Resposta: A – Nos dois casos, os termos sublinhados exercem a função de complemento nominal:
Em "Já tive medo da morte.", a expressão "da morte" completa o sentido do substantivo abstrato "medo". Observemos que a "morte" é o alvo do "medo" (quem tem medo, tem medo de algo).
Em "Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai.", o termo "lhe" completa o sentido do adjetivo "insuportável". Na ordem direta, teríamos: A visão do sofrimento do pai era insuportável (adjetivo) a ele (lhe = a ele).

12. "A vida é tão boa! Não quero ir embora...".
Sobre os dois períodos acima, é correto dizer:

A) o primeiro expressa consequência em relação ao segundo.
B) o segundo expressa causa em relação ao primeiro.
C) os dois se opõem semanticamente.
D) os dois mantêm entre si uma relação de adição.
E) o conectivo "visto que" poderia unir adequadamente os dois períodos.

12. Resposta: A – Em "A vida é tão boa! Não quero ir embora...", o primeiro período expressa consequência em relação ao segundo, isto é, o fato de não querer ir embora é a consequência (= efeito) de a vida ser tão boa (= causa).

Comentário:

b), c) e d) Itens Errados – Já vimos na alternativa A que o primeiro período expressa consequência; o segundo, causa.
e) Item Errado – O conectivo que poderia unir adequadamente os dois períodos seria "por isso", "portanto" e sinônimos, indicando consequência: "A vida é tão boa, por isso não quero ir embora..."

13. No trecho 'Não chore, que eu vou te abraçar...', o conectivo "que" é:

A) pronome relativo.
B) conjunção integrante.
C) conjunção explicativa.
D) conjunção causal.
E) advérbio.

13. Resposta: C – No trecho 'Não chore, que eu vou te abraçar...', o conectivo "que" , equivalente a "pois", é conjunção explicativa, já que introduz a justificativa para o que se afirma na oração anterior.

14. No período "Não sabia o que dizer", o termo "o":

A) é pronome pessoal.
B) exerce função sintática de objeto direto da oração adjetiva restritiva.
C) exerce função sintática de objeto direto da oração principal.
D) exerce função sintática de objeto direto da oração adjetiva restritiva.
E) é pronome pessoal oblíquo.

14. Resposta: C – No período "Não sabia o que dizer", o termo "o", equivalente a "aquilo", é pronome demonstrativo.

Comentário: Analisemos sintaticamente o período "Não sabia o que dizer":
Primeira oração (= oração principal): Não sabemos o (= aquilo). / sujeito: Nós (subentendido pela desinência verbal "mos"; núcleo do predicado verbal: sabemos; objeto direto: o (= aquilo) (quem sabe, sabe algo; "o" completa o sentido do verbo "saber").
Segunda oração (oração adjetiva restritiva, pois é iniciada pelo pronome relativo "que"; essa oração restringe o sentido do pronome demonstrativo "o"): que (= o = aquilo) dizer. / Ordem direta: dizer que (= o = aquilo); como "que" completa o sentido do verbo dizer, é objeto direto. Observemos que o pronome relativo "que" é o objeto direto gramatical do verbo "dizer", representando semanticamente o vocábulo "o".

15. "Dona Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura."(l. 15-17)
Sobre os três períodos acima, é correto afirmar que:

A) o 1° é narrativo, e o 2° e o 3°, descritivos.
B) o 1° é descritivo, e o 2° e o 3°, narrativos.
D) o 1° e o 2° são narrativos, e o 3°, descritivo.
C) o 1° é descritivo, e o 2° e 3°, argumentativos.
E) o 1° e o 2° são descritivos, e o 3°, argumentativos.

15. Resposta: C – O primeiro período e o terceiro são descritivos. Observemos que o autor caracteriza a personagem "Dona Clara". Nesses dois períodos não há mudança de estado (a personagem é caracterizada num determinado momento), por isso não ocorre narração; os verbos no pretérito imperfeito ("era" e "vivia") são marcas descritivas; a presença do predicado nominal (primeiro período) também é característica da descrição; a presença de predicativo (velhinha) e de adjuntos adnominais (de 95 anos, mansa) dão expressividade à descrição.
O terceiro período é narrativo. A sequência narrativa é caracterizada pela mudança temporal, indicando transformação do estado inicial. Observemos que a locução adverbial "De repente" indica que ocorreu uma mudança de situação inicial; o verbo no pretérito perfeito, indicando uma sucessividade de ações, é uma das características das sequências narrativas.

16. "Eram 6h. Minha filha me acordou.".
"Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: (...)".
"Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue.".
O pronome "me", nas três ocorrências, exerce a função sintática de:

A) direto nas três ocorrências.
B) objeto direto, objeto indireto, objeto indireto, respectivamente.
C) objeto indireto nas três ocorrências.
D) objeto indireto, objeto indireto, objeto direto, respectivamente.
E) objeto indireto, objeto direto, objeto direto, respectivamente.

16. Resposta: B – O pronome "me", nas três ocorrências, exerce a função sintática de objeto direto, objeto indireto, objeto indireto, respectivamente.

Comentário: Em "Eram 6h. Minha filha me acordou.", o verbo "acordar" é transitivo direto (quem acorda, acorda alguém), portanto "me" é objeto direto. No trecho "Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: (...), o verbo "fazer é transitivo direto e indireto: fazer algo (= a pergunta > objeto direto) a alguém (= me > objeto indireto). No período "Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue.", o verbo "dizer" é transitivo direto e indireto: dizer algo (= que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue > objeto direto) a alguém (= me > objeto indireto.

17. No trecho "Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara:", o segundo verbo está no pretérito mais-que-perfeito do indicativo visto que:

A) exprime uma ação durativa.
B) exprime probabilidade sobre fatos atuais.
C) exprime um fato passado habitual.
D) exprime uma ação concluída.
E) indica uma ação uma ação anterior a outra ação passada.

17 Resposta: E – A forma verbal "imaginara", pretérito mais-que-perfeito do indicativo, indica que a ação de "imaginar" ocorreu antes de "fazer a pergunta". Sabemos que, quando ocorrem duas ações, o pretérito mais-que-perfeito indica a ação anterior, e o pretérito perfeito, a posterior. Exemplo: Quando você chegou, a aula já começara (ou tinha começado): Primeiro, começou a aula; depois, você chegou.

18. No fragmento 'Que pena a vida ser só isto...', o vocábulo "Que" classifica-se como:

A) pronome indefinido adjetivo.
B) advérbio.
C) pronome relativo.
D) preposição.
E) conjunção explicativa.

18. Resposta: A – Em 'Que pena a vida ser só isto...', o vocábulo "Que" classifica-se como pronome indefinido adjetivo, visto que precede o substantivo "pena"; exerce a função de adjunto adnominal.

19. "O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo;(...)".
O termo em destaque pode haja alteração de sentido, por:

A) porquanto.
B) conquanto.
C) se bem que.
D) posto que.
E) portanto.

19. Resposta: A – A oração "porque já não sou mais dono de mim mesmo" indica a razão do que se afirma na oração anterior (sem que eu nada possa fazer), ou seja, o autor não pode fazer nada visto que já não é dono de si mesmo. Assim, o conectivo "porque" é causal, podendo ser substituído pelos sinônimos "porquanto", "visto que", "pois", "já que", "uma vez que", etc.

Comentário:

b) Item Errado – conquanto: conjunção concessiva;
c) Item Errado – se bem que: conjunção concessiva;
d) Item Errado – posto que : conjunção concessiva;
e) Item Errado – portanto: conjunção conclusiva.

20. "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?".
"O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, (...)".
Nas frases acima, os conectivos sublinhados expressam, respectivamente:

A) finalidade e modo.
B) finalidade e oposição.
C) causa e consequência.
D) consequência e oposição.
E) finalidade e consequência.

20. Resposta: A – Nas frases acima, os conectivos sublinhados expressam, respectivamente: finalidade e modo.

Comentário:

"O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". / A finalidade (= objetivo) do aumento da dose dos analgésicos é o fim do sofrimento do pai.
"O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, (...)". / O conectivo “sem que” denota o modo como ocorre o fato expresso na oração principal (De que modo o morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade? Resposta: eu nada possa fazer = desse modo).

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