terça-feira, 8 de setembro de 2009

CESPE – Ministério da Integração Nacional – Assistente Técnico-Administrativo – 2009 – Nível Médio

CESPE – Ministério da Integração Nacional – Assistente Técnico-Administrativo – 2009 – Nível Médio

O administrador interino

1. Pádua era empregado em repartição dependente do
2. Ministério da Guerra. Não ganhava muito, mas a mulher
3. gastava pouco, e a vida era barata. Demais, a casa em que
4. morava, assobradada como a nossa, posto que menor, era
5. propriedade dele. Comprou-a com a sorte grande que lhe
6. saiu num meio bilhete de loteria, dez contos de réis.
7. A primeira ideia do Pádua, quando lhe saiu o prêmio, foi
8. comprar um cavalo do Cabo, um adereço de brilhantes para
9. a mulher, uma sepultura perpétua de família, mandar vir da
10. Europa alguns pássaros etc.; mas a mulher, esta D. Fortunata
11. que ali está à porta dos fundos da casa, em pé, falando à
12. filha, alta, forte, cheia, como a filha, a mesma cabeça, os
13. mesmos olhos claros, a mulher é que lhe disse que o melhor
14. era comprar a casa, e guardar o que sobrasse para acudir às
15. moléstias grandes. Pádua hesitou muito; afinal, teve de ceder
16. aos conselhos de minha mãe, a quem D. Fortunata pediu
17. auxílio. Nem foi só nessa ocasião que minha mãe lhes valeu;
18. um dia chegou a salvar a vida ao Pádua. Escutai; a anedota
19. é curta.
20. O administrador da repartição em que Pádua
21. trabalhava teve de ir ao Norte, em comissão. Pádua, ou por
22. ordem regulamentar, ou por especial designação, ficou
23. substituindo o administrador com os respectivos honorários.
24. Esta mudança de fortuna trouxe-lhe certa vertigem; era antes
25. dos dez contos. Não se contentou de reformar a roupa e a
26. copa, atirou-se às despesas supérfluas, deu joias à mulher,
27. nos dias de festa matava um leitão, era visto em teatros,
28. chegou aos sapatos de verniz. Viveu assim vinte e dois meses
29. na suposição de uma eterna interinidade. Uma tarde entrou
30. em nossa casa, aflito e desvairado, ia perder o lugar, porque
31. chegara o efetivo naquela manhã. Pediu a minha mãe que
32. velasse pelas infelizes que deixava; não podia sofrer
33. desgraça, matava-se. Minha mãe falou-lhe com bondade, mas
34. ele não atendia a coisa nenhuma.
35. Pádua enxugou os olhos e foi para casa, onde viveu
36. prostrado alguns dias, mudo, fechado na alcova, – ou então
37. no quintal, ao pé do poço, como se a ideia da morte teimasse
38. nele. D. Fortunata ralhava:
39. – Joãozinho, você é criança?
40. Mas, tanto lhe ouviu falar em morte que teve medo,
41. e um dia correu a pedir a minha mãe que lhe fizesse o favor
42. de ver se lhe salvava o marido que se queria matar. Minha
43. mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que vivesse.
44. Que maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado,
45. por causa de uma gratificação a menos, e perder um emprego
46. interino?
Machado de Assis. Dom Casmurro, cap. XVI (com adaptações).

Com relação à interpretação do texto e à significação das palavras nele empregadas, julgue os seguintes itens.

1. No trecho “como se a ideia da morte teimasse nele” (l.37-38), o verbo teimar é sinônimo de embirrar e está empregado em sentido conotativo.

1. Item Errado – O verbo "teimar" está empregado em sentido conotativo (figurado). Além disso "embirrar" significa “teimar insistentemente, com zanga, enfado ou paixão", portanto, no contexto, não poderia substitui adequadamente "teimar".

2. Depreende-se, a partir do texto, que João era prenome de Pádua.

2. Item Correto – Infere-se que o prenome de Pádua era João, uma vez, que a mulher, D. Fortunata, o chamou por esse nome: "– Joãozinho, você é criança?".

3. Depreende-se do texto que a vida de Pádua era financeiramente difícil.

3. Item Errado – Pelos dois primeiros períodos do texto, deduz-se que a vida financeira de Pádua não era difícil: "Não ganhava muito, mas a mulher gastava pouco, e a vida era barata. Demais, a casa em que morava, assobradada como a nossa, posto que menor, era propriedade dele".

4. O termo “Demais” (l.3) tem o mesmo valor que a expressão Além disso.

4. Item Correto – Empregado como conectivo, o termo "demais" significa "ademais", "além disso". A palavra "ademais" possui também o sentido de "outros", "restantes" – pronome indefinido (Vocês ficam aí; os demais podem sair.) e "em demasia", "excessivamente" (Vocês trabalham demais.).

5. Durante o período em que substituiu o administrador da repartição, Pádua foi remunerado pelo exercício dessa função.

5. Item Correto – É correto afirmar que, durante o período em que substituiu o administrador da repartição, Pádua foi remunerado pelo exercício dessa função. Isso está comprovado no texto: "(...) Pádua (...) ficou substituindo o administrador com os respectivos honorários".

6. Entre os trechos que justificam o título do texto, inclui-se o seguinte: “Pádua, ou por ordem regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador” (l.-23).

6. Item Correto – O trecho “Pádua, ou por ordem regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador” justifica o título do texto – O administrador interino –, uma vez que "interino" significa "aquele que exerce funções provisórias na falta ou impedimento do funcionário efetivo".

7. A palavra “fortuna”, em “Esta mudança de fortuna” (l.24), foi empregada no sentido de grande quantidade de dinheiro.

7. Item Errado – A palavra “fortuna”, em “Esta mudança de fortuna”, foi usada no sentido de "sina", "sorte", "destino".

Julgue os itens de 8 a 20 com relação a aspectos gramaticais e ortográficos do texto.

8. A expressão “salvar a vida ao Pádua” (l.18) pode ser adequadamente interpretada como salvar a vida do Pádua, literalmente.

8. Item Correto – A expressão “salvar a vida ao Pádua” significa literalmente (literalmente = no sentido real) "salvar a vida do Pádua", como se pode depreender do trecho a seguir: "Mas, tanto lhe ouviu falar em morte que teve medo, e um dia correu a pedir a minha mãe que lhe fizesse o favor de ver se lhe salvava o marido que se queria matar".

9. A forma verbal “Escutai” (l.18) está flexionada no modo subjuntivo e indica a incerteza do falante a respeito do que está dizendo.

9. Item Errado – A forma verbal “Escutai” está flexionada no modo imperativo e tem o objetivo de estabelecer uma interação com o leitor, ou seja, o autor cria uma intimidade com seu leitor, fazendo com que ambos, autor e leitor, compartilhem o mesmo pensamento.

10. A palavra “repartição” (l.1) diz respeito a uma área administrativa específica do “Ministério da Guerra” (l.2). Com esse mesmo sentido, o autor poderia ter empregado a palavra cessão.

10. Item Errado – Com sentido de "repartição", o autor poderia ter empregado o vocábulo "seção".
Observação: seção ou secção = repartição; cessão = doação, autorização, concessão; sessão = espaço de tempo de uma determinada reunião.

11. A substituição da preposição “em” por de na expressão “era empregado em repartição” (l.1) implica que a repartição onde Pádua trabalhava era necessariamente o órgão empregador.

11. Item Correto – Com a expressão "era empregado em repartição”, percebe-se que "repartição" era o local onde Pádua trabalhava (Onde trabalhava? Resposta: Em repartição.). Caso a preposição "em" fosse substituída por "de", "repartição" indicaria necessariamente o órgão empregador, pois corresponderia a "repartição empregava Pádua" ("repartição" seria o agente do "emprego de Pádua".

12. A vírgula empregada imediatamente antes da expressão “dez contos de réis” (l.6) pode ser substituída por dois pontos ou por travessão, sem prejuízo para a coerência e a correção do texto.

12. Item Correto – A expressão “dez contos de réis” é um aposto explicativo, e o aposto explicativo em fim de frase pode ser isolado por vírgula, travessão, dois pontos ou travessão.

13. Em “mandar vir da Europa alguns pássaros” (l.9-10), a forma verbal “vir” poderia concordar com a expressão nominal “alguns pássaros”, que é o sujeito desse verbo.

13. Item Correto – Com auxiliares causativos (deixar, mandar, fazer e sinônimos) e sensitivos (ver, ouvir, sentir e sinônimos), se o sujeito vier depois do infinitivo, a flexão desse infinitivo é facultativa, embora a tendência é não flexioná-lo: "mandar vir da Europa alguns pássaros" ("pássaros" é sujeito) ou mandar virem da Europa alguns pássaros (= mandar os pássaros virem).

14. No trecho “a mulher é que lhe disse” (l.13),expressão “é que” confere ênfase ao elemento que exerce a função de sujeito da oração.

14. Item Correto – Nesta frase, a expressão "é que" não exerce função gramatical e pode ser retirada do texto, sem provocar prejudicar sintaticamente o texto. Serve apenas para destacar o sujeito.

15. A expressão nominal “D. Fortunata” é empregada, no texto, sem artigo. Por essa razão, caso a palavra sublinhada em “deu joias à mulher” (l.26) fosse substituída por “D. Fortunata”, o acento grave sobre o a que sucede “joias” não deveria ser empregado.

15. Item Correto – Em princípio não se usa artigo com a palavra "dona", por isso não pode ocorrer crase. O "a" é apenas preposição, que é exigida pelo verbo "dar" (dar algo a alguém). Se o termo "dona" estiver determinado, haverá crase: Deu joias à simpática Dona Fortunata.

16. No trecho “foi para casa, onde viveu prostrado alguns dias” (l.35-36), o pronome relativo tem valor possessivo, indicando que a casa a que o autor se refere pertence a Pádua.

16. Item Errado – O pronome relativo "onde" indica lugar. O único pronome relativo que tem valor possessivo é "cujo" e flexões. Pode ser substituído pelo possessivo "seu" e flexões. Exemplo: Esta é a casa cujas janelas dão vista para o mar (= Esta é a casa. Suas janelas dão vista para o mar.).

17. O último período do texto poderia ter sido introduzido por um travessão, uma vez que corresponde a uma transcrição literal de fala, denominada discurso direto.

17. Item Errado – O período "Que maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma gratificação a menos, e perder um emprego interino?" não poderia ser introduzido por travessão, uma vez que está em discurso indireto livre. Segundo "Nova Gramática do Português Contemporâneo", de Celso Cunha e Lindley Cintra, o discurso indireto livre "aproxima narrador e personagem, dando-nos a impressão de que passam a falar em uníssono". O discurso indireto livre não é introduzido por travessão nem se isola por aspas.

“Discurso indireto livre é uma modalidade de técnica narrativa, resultante da mistura dos discursos direto e indireto, sendo um processo de grande efeito estilístico.
Por meio dele, o narrador pode, não apenas reproduzir indiretamente falas da personagens, mas também o que elas não falam, mas pensam, sonham, desejam, etc. Neste caso, discurso indireto livre corresponde ao monólogo interior das personagens, mas expresso pelo narrador.
As orações do discurso indireto livre são, em regra, independentes, sem verbos dicendi. O foco narrativo deve ser de terceira pessoa. Esse discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e ritmo que confere ao texto. Para produzir discurso indireto livre que exprima o mundo interior da personagem, o narrador precisa ser onisciente”. (pt.wikipedia.org/wiki/Discurso_indireto_livre. Acesso: 10/8/2009)

18. Os pronomes empregados em “quando lhe saiu o prêmio” (l.7) e “atirou-se às despesas supérfluas” (l.26) devem ser interpretados como reflexivos.

18. Item Errado – É verdade que o pronome "se" é pronome reflexivo (se = a si mesmo), mas "lhe" é pessoal obliquo.

19. O verbo empregado em “chegara o efetivo” (l.31) pode ser substituído pela locução verbal tinha chegado, sem prejuízo para a interpretação do texto.

19. Item Correto – A forma verbal "chegara" poderia ser substituída por "tinha chegado", visto que o mais-que-perfeito composto é formado pelo imperfeito de "ter" ou "haver" mais o particípio: Ele chegara = Ele tinha (ou havia) chegado.

20. Em “chegara o efetivo” (l.31) e “velasse pelas infelizes” l.32), “efetivo” remete ao administrador da repartição e “infelizes”, à mulher e à filha de Pádua.

20. Item Correto – Em “chegara o efetivo” e “velasse pelas infelizes”, “efetivo” remete anaforicamente ao administrador da repartição, e “infelizes”, à mulher e à filha de Pádua. Vejamos a substituição: "Uma tarde entrou em nossa casa, aflito e desvairado, ia perder o lugar, porque chegara o administrador da fazenda (efetivo) naquela manhã". / "Pediu a minha mãe que velasse pela mulher e a filha de Pádua (as infelizes) infelizes que deixava; não podia sofrer desgraça, matava-se".

O sentido original do texto seria mantido com a substituição

21. do conector “afinal” por portanto, em “Pádua hesitou muito; afinal, teve de ceder aos conselhos de minha mãe” (l.15-16).

21. Item Errado – O conectivo "afinal" introduz uma justificativa para o que foi dito anteriormente (O fato de ter de ceder aos conselhos justifica a hesitação do Pádua.); já "portanto" introduziria uma conclusão, isto é, uma consequência lógica de uma premissa. Exemplo: Você estudou muito. Portanto fará uma boa prova (O fato de ter estudado muito leva-nos a dedução lógica de que fará uma boa prova.).

22. dos conectivos “ou (...) ou (...)” por tanto (...) quanto (...), em “Pádua, ou por ordem regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador” (l.21-23).

22. Item Errado – A locução conjuntiva "ou ... ou" introduz um sentido de alternativa: a opção apresentada ("por especial designação") implica a exclusão da primeira ("ordem regulamentar"). A locução "tanto ..." quanto" denota adição.

23. do conector “e” pela conjunção porque, em “mas a mulher gastava pouco, e a vida era barata” (l.2-3).

23. Item Errado – O conectivo "e" introduz uma adição; já "porque" iniciaria uma justificativa para o que se disse anteriormente.

24 do conector “posto que” por embora, em “a casa em que morava (...), posto que menor, era propriedade dele” (l.3-5).

24. Item Correto – Os conectivos "embora" e "posto que" são semanticamente equivalentes: exprimem concessão, ou seja, admitem uma razão que se concede, mas incapaz de impedir o fato expresso na oração principal.

25. do conector “para” por a fim de, em “e guardar o que sobrasse para acudir às moléstias grandes” (l.14-15).

25. Item Correto – Os conectivos "para" e "afim de" são sinônimos e denotam finalidade.

Texto para os itens de 51 a 57

1. [Tipo do expediente] n.º 43/SCO-MI
2. Brasília, 12 de junho de 2009.

3. [Vocativo]

4. Convido Vossa Excelência a participar da sessão de
5. abertura do seminário Ecoturismo no Centro-Oeste, a ser
6. realizado em 27 de julho próximo, às 9 h, no auditório do
7. Centro de Convenções, nesta capital.
8. Certo de contar com sua presença, reitero meu
9. sentimento de apreço e estima por Vossa Excelência.

10. [fecho]

J Silva
João da Silva
13. Secretário de Desenvolvimento do Centro-Oeste-MI

14. A Sua Excelência o Senhor
15. Senador José Moraes
16. Senado Federal

Com base nas normas de redação de documentos oficiais do Poder Executivo, julgue os itens a seguir com relação ao correto preenchimento dos espaços designados pelos colchetes.

26. O segundo colchete (l.3) deve ser preenchido com o vocativo “Senhor Senador,”.

26. Item Correto – O vocativo adequado para senador é "Senhor Senador,”. Observemos o que diz o Manual de Redação da Presidência da República: "O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas aos Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo respectivo:

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal.

As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor, seguido do cargo respectivo:

Senhor Senador,
Senhor Juiz,
Senhor Ministro,
Senhor Governador,"

27. O fecho do expediente (l.10) deve conter as saudações Abraços ou Cumprimentos protocolares, a depender do grau de intimidade entre signatário e destinatário.

27. Item Errado – Os documentos oficiais caracterizam-se pela impessoalidade, portanto não devem usar conter traços característicos da subjetividade, isto é, não deve haver impressões pessoais de quem elabora o texto. A propósito, reproduzimos um trecho do Manual de Redação da Presidência da República:

"Fechos para Comunicações

O fecho das comunicações oficiais possui, além da finalidade óbvia de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os modelos para fecho que vinham sendo utilizados foram regulados pela Portaria no 1 do Ministério da Justiça, de 1937, que estabelecia quinze padrões. Com o fito de simplificá-los e uniformizá-los, este Manual estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes para todas as modalidades de comunicação oficial:

a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da República: Respeitosamente,
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior: Atenciosamente,

Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do Ministério das Relações Exteriores”.

28. Por se tratar de convite oficial, o tipo de expediente recomendado é o memorando, devendo o primeiro colchete (l.1) ser preenchido com o termo Memorando ou com a abreviatura Memo.

28. Item Errado – O documento em questão é um ofício, e não memorando, visto tratar-se de correspondência externa. Alem disso a abreviação de memorando é "Mem.", e não "Memo".

Memorando: "É a correspondência interna empregada entre as unidades administrativas de um órgão, sem restrições hierárquicas e temáticas". (Manual de Redação da Câmara dos deputados) / Trata-se de documento de comunicação interna.
Ofício: "É o documento destinado à comunicação oficial entre órgãos da administração pública e de autoridades para particulares.Manual de Redação da Câmara dos deputados) / Trata-se de documento de comunicação externa.

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