quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CESPE – Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) – Administrador – 2008 – Nível Superior

CESPE – Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) – Administrador – 2008 – Nível Superior

Trabalho escravo: longe de casa há muito mais de uma semana

1. O resgate de trabalhadores encontrados em situação
2. degradante é uma rotina nas ações do Grupo Especial Móvel
3. de Combate ao Trabalho Escravo, do MTE. Desde que
4. iniciou suas operações, em 1995, já são mais de 30 mil
5. libertações de trabalhadores submetidos a condições
6. desumanas de trabalho. “Chamou-me a atenção o caso de um
7. trabalhador que há 30 anos não via a família”, lembra
8. Cláudio Secchin, um dos oito coordenadores das operações
9. do Grupo Móvel. Natural de Currais Novos, no Rio Grande
10. do Norte, José Galdino da Silva – Copaíba, como gosta de
11. ser chamado – saiu de casa com 10 anos de idade para
12. trabalhar no Norte. Nunca estudou. Durante 40 anos, veio
13. passando de fazenda em fazenda, de pensão em pensão,
14. trabalhando com derrubada de mata e roça de pasto. Nunca
15. teve a carteira de trabalho assinada e perdeu a conta de
16. quantas vezes não recebeu pelo trabalho que fez. Copaíba
17. nunca se casou nem teve filhos. “Não conseguia dormir
18. direito por não conseguir juntar dinheiro sequer para retornar
19. à minha cidade e rever a família”, relatou. Quando uma
20. fazenda no município paraense de Piçarras foi fiscalizada em
21. junho deste ano, Copaíba foi localizado pelo Grupo Móvel,
22. resgatado e recebeu de indenização trabalhista mais de
23. R$ 5 mil.
Revista Trabalho. Brasília: MTE, ago./set./out./2008, p. 40-2 (com adaptações).

Acerca dos aspectos estruturais e linguísticos e dos sentidos do texto acima, julgue os itens a seguir.

1. Empregam-se, no texto, alguns elementos estruturais da narrativa que, nesse caso, são fundamentais para a consolidação de sua natureza informativa e jornalística.

1. Item Correto – O relato (narração) da história de Copaíba contribui para a credibilidade das informações do texto, ou seja, a vida de José Galdino da Silva comprova a escravidão existente no Brasil e a libertação de trabalhadores que viviam em situações degradantes.

Elementos da narrativa
São elementos básicos da narrativa: as personagens (inclusive o narrador), o enredo e a localização temporal e espa¬cial.
1. Narrador: é o elemento que estrutura o enredo. É quem conta a história. Pode ser:
a) narrador de 1ª pessoa: participa da história, podendo ser personagem principal ou secundária.
b) narrador de 3ª pessoa observador: não se inclui na narrativa. O narrador observador apenas relata os fatos de uma forma objetiva.
c) narrador de 3ª pessoa onisciente: não se inclui na narrativa, mas não só relata os fatos, como também revela os sentimentos, emoções e intenções das personagens.
2. Enredo: é o conjunto de acontecimentos que formam a história. Também é chamado de intriga, ação, história, fá¬bula (quando tem animais como persona¬gens).
3. Personagens: são seres com caracterís¬ticas físicas e psicológicas determinadas que atuam na narrativa. Podem ser prin¬cipais ou secundárias, de acordo com a importância na narrativa.
4. Ambiente (ou local, ou espaço): é o espaço físico e social, onde se passa a narrativa. Físico é o lugar onde acontece a narrativa; social é um cenário com carac¬terísticas socioeconômicas, morais, psico¬lógicas, em que habitam as personagens.
5. Tempo: é o elemento que se refere à seqüência da narrativa. Divide-se em:
a) cronológico – transcorre na ordem natu¬ral dos fatos; é linear, mensurável.
b) psicológico – é retrospectivo, de acordo com as lembranças e intenções do narrador ou personagens, isto é, a ordem natural dos acontecimentos é alterada.
(Gramática essencial para concursos. Henrique Nuno Fernandes)

2. De acordo com as informações apresentadas no texto, Copaíba foi vítima do crime de trabalho infantil e não apenas do trabalho escravo.

2. Item Correto – Copaíba não só foi vítima do trabalho escravo, visto que sempre trabalhou sem carteira assinada e muitas vezes seu trabalho não foi renumerado, mas também foi vítima do crime de trabalho infantil, pois começou a trabalhar aos dez anos de idade.

3. A relação entre o título do texto e o seu conteúdo está baseada em referências espaciais e temporais que ligam o trabalho escravo à história de vida de Copaíba.

3. Item Correto – A relação entre o título do texto e o seu conteúdo está baseada em referências espaciais e temporais que ligam o trabalho escravo à história de vida de Copaíba: no título – longe de casa (lugar), há muito mais de uma semana (tempo); no conteúdo – de fazenda em fazenda pelo Brasil afora (lugar), 40 anos (tempo).

4. Infere-se do texto que as relações de trabalho análogas ao trabalho escravo no Brasil diminuíram muito a partir de 1995.

4. Item Errado – O fato de as operações do Grupo Especial Móvel de Combate ao Trabalho Escravo, do MTE, terem começado em 1995 não comprova a diminuição do trabalho escravo a partir dessa data, visto que o "resgate de trabalhadores encontrados em situação degradante" continua sendo "uma rotina".

5 Com o emprego da locução verbal “veio passando” (l.12-13) e a forma verbal “trabalhando” (l.14), associadas ao conjunto do texto, reforça-se a idéia de que foi longo o tempo de exercício do trabalho escravo na vida de Copaíba.

5. Item Correto – A locução verbal "veio passando" e a forma verbal “trabalhando” indicam ações cursivas, isto é, que se estenderam por etapas sucessivas (durante 40 anos) – o longo tempo de exercício do trabalho escravo na vida de Copaíba.

6. O sinal indicativo de crase em ‘retornar à minha cidade’ (l.18-19) é facultativo e a sua omissão preservaria os sentidos do texto e a correção das estruturas lingüísticas.

6. Item Correto – A crase é facultativa antes de pronomes possessivos adjetivos no singular (minha, tua, nossa e vossa), uma vez que a presença de artigo antes desses pronomes é opcional (retornar à minha cidade / retornar ao meu bairro OU retornar a minha cidade / retornar a meu bairro).

1. No Brasil, apesar da pressão do desemprego, que
2. tem atingido níveis altíssimos, a fiscalização do trabalho e a
3. justiça do trabalho estão empenhadas em uma luta para
4. preservar o direito do trabalhador ao emprego com registro,
5. tratando de coibir as formas atípicas de emprego,
6. especialmente a do trabalho cooperativado. As cooperativas
7. de trabalho são denunciadas como falsas, como pretensas
8. cooperativas, criadas unicamente para privar os
9. trabalhadores dos seus direitos legais. Apesar da ação
10. vigorosa de fiscais, procuradores e juízes do trabalho, o
11. número dos que gozam do direito ao emprego com registro
12. não cessa de diminuir. Na realidade, nem todas as
13. cooperativas de trabalho contratadas por firmas são falsas.
14. Um bom número delas são formadas por trabalhadores
15. desempregados, que disputam os seus antigos empregos
16. contra intermediadoras de mão-de-obra. Para eles, a perda
17. dos direitos já é um fato consumado e, se forem obrigados a
18. se empregar nas terceirizadas, possivelmente sofrerão, além
19. disso, acentuada perda de salário direto. Outras cooperativas
20. de trabalho são formadas por trabalhadores que estavam
21. assalariados por empresas intermediadoras e que preferiram
22. se organizar em cooperativa para se apoderar de parte do
23. ganho que aquelas empresas auferem a suas custas. Essas
24. considerações não pretendem indicar que a luta contra a
25. precarização é inútil, mas que ela carece de bases legais para
26. realmente coibir a perda incessante de direitos por cada vez
27. mais trabalhadores. O fulcro da questão é que ou garantimos
28. os direitos sociais a todos os trabalhadores, em todas as
29. posições na ocupação – assalariados, estatutários,
30. cooperantes, avulsos, terceirizados etc. – ou será cada vez
31. mais difícil garanti-los para uma minoria cada vez menor de
32. trabalhadores que hoje têm o status de empregados
33. regulares.
Paul Singer. Em defesa dos direitos dos trabalhadores. Brasília:MTE, Secretaria de Economia Solidária, 2004, p. 4 (com adaptações).

Com relação aos sentidos e às estruturas linguísticas do texto acima, julgue os itens de 7 a 14.

7. Infere-se do texto que, na atualidade, os direitos sociais dos trabalhadores brasileiros podem se transformar em privilégio garantido a poucos.

7. Item Correto – De acordo com o texto, na atualidade os direitos sociais dos trabalhadores brasileiros podem-se transformar em privilégio garantido a poucos: "O fulcro da questão é que ou garantimos os direitos sociais a todos os trabalhadores, em todas as posições na ocupação – assalariados, estatutários, cooperantes, avulsos, terceirizados etc. – ou será cada vez mais difícil garanti-los para uma minoria cada vez menor de trabalhadores que hoje têm o status de empregados regulares".

8. Está confirmado no texto a existência de formas diversas de trabalho cooperativado no Brasil atual: as cooperativas falsas — criadas para privar os trabalhadores de seus direitos legais —, as que são criadas por trabalhadores desempregados e as formadas por trabalhadores que optaram pela forma do trabalho cooperativado.

8. Item Correto - De acordo com o texto, existem formas diversas de trabalho cooperativado no Brasil atual: 1. as cooperativas falsas – criadas para privar os trabalhadores de seus direitos legais ("As cooperativas de trabalho são denunciadas como falsas, como pretensas cooperativas, criadas unicamente para privar os trabalhadores dos seus direitos legais"); as que são criadas por trabalhadores desempregados ("Um bom número delas são formadas por trabalhadores desempregados, que disputam os seus antigos empregos contra intermediadoras de mão-de-obra"); as formadas por trabalhadores que optaram pela forma do trabalho cooperativado ("Outras cooperativas de trabalho são formadas por trabalhadores que estavam assalariados por empresas intermediadoras e que preferiram se organizar em cooperativa para se apoderar de parte do ganho que aquelas empresas auferem a suas custas").

9. A luta da fiscalização e da justiça do trabalho “para preservar o direito do trabalhador ao emprego com registro” (l.3-4) é inócua, uma vez que as formas atípicas de trabalho não cessam de crescer.

9. Item Errado – Não é inócua (= inútil) a luta da fiscalização e da justiça do trabalho “para preservar o direito do trabalhador ao emprego com registro”. O autor do texto usa uma estrutura concessiva ("apesar da pressão do desemprego, que tem atingido níveis altíssimos") admitindo um argumento contrário – a pressão do desemprego, que tem atingido níveis altíssimos – para concluir que é importante essa luta da fiscalização e da justiça do trabalho. Além disso, o enunciador do texto afirma que "Essas considerações não pretendem indicar que a luta contra a precarização é inútil, mas que ela carece de bases legais para realmente coibir a perda incessante de direitos por cada vez mais trabalhadores".

10. Caso se inserisse uma vírgula logo após “trabalhadores” (l.20) o sentido expresso no trecho seria preservado.

10. Item Errado – No texto, as orações "que estavam assalariados por empresas intermediadoras" e "que preferiram se organizar em cooperativa para se apoderar de parte do ganho que aquelas empresas auferem a suas custas" são adjetivas restritivas (sem vírgulas), isto é, limitam o sentido do termo "trabalhadores", o que significa que as cooperativas de trabalho são formadas SOMENTE por trabalhadores "que estavam assalariados por empresas intermediadoras" e "que preferiram se organizar em cooperativa para se apoderar de parte do ganho que aquelas empresas auferem a suas custas", deduzindo-se, portanto, que existem trabalhadores que NÂO estavam assalariados por empresas intermediadoras NEM preferiram organizar-se em cooperativas. Caso se inserisse uma vírgula depois de "trabalhadores", as orações subsequentes passariam a ser adjetivas explicativas, o que modificaria o sentido original do texto: essas orações expressariam uma característica a todos os trabalhadores: TODOS os trabalhadores estavam assalariados por empresas intermediadoras e preferiram se organizar em cooperativa.

11. O trecho “Um bom número delas são formadas por trabalhadores desempregados” (l.14-15) expressa a idéia de que cada cooperativa falsa é formada por um grande número de trabalhadores sem emprego.

11. Item Errado – O segmento “Um bom número delas são formadas por trabalhadores desempregados” significa que muitas cooperativas são compostas por trabalhadores desempregados. Observemos que a expressão "Um grande número" refere-se a "cooperativas" e não, a "trabalhadores desempregados".

12. A utilização do verbo na forma reflexiva em “se empregar” (l.18) enfatiza, nesse contexto, o sentido de que os trabalhadores têm liberdade de optar por trabalhar em empresas terceirizadas ou não.

12. Item Errado – No contexto, a forma verbal pronominal "empregar-se", precedida da locução verbal "forem obrigados" indica que os trabalhadores não têm liberdade de optar por trabalhar em empresas terceirizadas ou não. Ao contrário, só teriam uma opção de emprego.

13. (adaptada) As alternativas expressas entre as linhas 27 e 33 complementam o sentido do sujeito da oração “O fulcro da questão é” (l.27).

13. Item Correto – O trecho expresso entre as linhas 27 e 33 funciona como predicativo do sujeito de "O fulcro da questão".

14. O acento na forma verbal “têm” (l.32) justifica-se porque o autor do texto se refere a todos os trabalhadores brasileiros.

14. Item Errado – O verbo "ter" está no plural ("têm) para referir-se não a "todos os trabalhadores brasileiros", mas com "uma minoria cada vez menor de trabalhadores".

Declaração de ministros do trabalho do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) na Conferência Regional de Emprego

1. CONSIDERANDO:
2. (...) Que o desafio do MERCOSUL é colocar o
3. emprego de qualidade no centro das estratégias de
4. desenvolvimento, para construir instrumentos de intervenção
5. relevantes para a inclusão social.
6. (...)
7. POR ISSO: OS MINISTROS DE TRABALHO, no
8. marco da CONFERÊNCIA REGIONAL DE EMPREGO
9. convocada pela Comissão Sociolaboral do MERCOSUL,
10. DECLARAM:
11. (...)
12. Art. 2.º Promover nos países-membros o
13. desenvolvimento de políticas nacionais de emprego,
14. orientadas prioritariamente em torno dos seguintes objetivos:
15. (...)
16. g) redução substancial das diferenças de gênero,
17. promovendo a diminuição das disparidades existentes entre
18. homens e mulheres no mundo do trabalho, e impulsionando
19. a coordenação de políticas de igualdade de oportunidades e
20. de combate a todas as formas de discriminação no emprego;
21. (...)
22. Art. 9.º Os Ministros do Trabalho do MERCOSUL
23. elevam a presente Declaração ao Conselho Mercado
24. Comum, para seu conhecimento e consideração.
25. Buenos Aires, 16 de abril de 2004.
26. ARGENTINA
27. Dr. CARLOS A. TOMADA
28. Ministro do Trabalho, Emprego e Seguridade Social
29. BRASIL
30. Dr. RICARDO BERZOINI
31. Ministro do Trabalho e Emprego
32. URUGUAI
33. Dr. SANTIAGO PEREZ DEL CASTILLO
34. Ministro do Trabalho e Seguridade Social
35. PARAGUAI
36. Dr. JUAN DARIO MONGES
37. Ministro da Justiça e Trabalho
Na trilha de Salvador: a inclusão social pela via do trabalho decente.Brasília: MTE, Assessoria Internacional, 2004, p. 51-4 (com adaptações).

Quanto aos sentidos e aos aspectos estruturais e lingüísticos do texto acima, julgue os itens de 15 a 20.

15. O texto apresenta características formais que permitem classificá-lo como documento oficial.

15. Item Correto – O texto em questão é um documento oficial: declaração.

16. É correto inferir que as propostas apresentadas nesse texto têm força de lei, o que implicou o seu cumprimento imediato no mundo concreto do trabalho nos países do MERCOSUL a partir de 16 de abril de 2004.

16. Item Errado – As propostas apresentadas nesse texto não têm força de lei, são apenas uma declaração de vontade.

17. Os autores do texto consideram que o problema do desemprego é um desafio para o MERCOSUL porque eles partem do pressuposto de que as relações de trabalho de qualidade podem se desenvolver sem que sejam promovidas estratégias de inclusão social relevantes.

17. Item Errado – Para que as relações de trabalho de qualidade se possam desenvolver, é necessário que sejam promovidas estratégias de inclusão social relevantes: "o desafio do MERCOSUL é colocar o emprego de qualidade no centro das estratégias de desenvolvimento, para construir instrumentos de intervenção relevantes para a inclusão social".

18. Infere-se do texto que, na Argentina, no Brasil, no Uruguai e no Paraguai, as relações entre homens e mulheres no mundo do trabalho ainda apresentam disparidades quanto à oportunidade de emprego.

18. Item Correto – É correta a inferência de que na Argentina, no Brasil, no Uruguai e no Paraguai, as relações entre homens e mulheres no mundo do trabalho ainda apresentam disparidades quanto à oportunidade de emprego, uma vez que existe a proposta de "redução substancial das diferenças de gênero, promovendo a diminuição das disparidades existentes entre homens e mulheres no mundo do trabalho", nos países pertencentes ao MERCOSUL, dos quais a Argentina, o Brasil, o Uruguai e o Paraguai fazem parte.

19. O emprego das maiúsculas em “MERCOSUL” (l.2), assim como em outras palavras do texto, contraria as normas abonadas pela ortografia oficial da língua portuguesa.

19. Item Errado – O emprego das maiúsculas em “MERCOSUL”, assim como em outras palavras do texto, é abonado pela ortografia oficial da língua portuguesa: MERCOSUL – escrevem-se com letra maiúscula as siglas que, apesar de compostas de consoante e de vogal, são pronunciadas mediante a acentuação das letras; nos demais casos as palavras estão em caixa alta para dar maior valorização à mensagem veiculada.

20. A substituição da palavra “Sociolaboral” (l.9) pela expressão do Trabalho Social manteria o sentido do vocábulo e estaria gramaticalmente correta.

20. Item Correto – A substituição da palavra “Sociolaboral” pela expressão do Trabalho Social manteria o sentido do vocábulo e estaria gramaticalmente correta, uma vez que na composição do vocábulo "Socioliberal" existem os elementos "socio" (de "social") e "laboral" (relativo a "trabalho").